Transcrevo na integra um bom texto do Prof. Jorge Buescu, que encontrei aqui (blog onde é co-autor, e que aconselho vivamente), com o título "Para que serve a matemática?", e que saiu também no Público. Aqui fica:
Tudo o que vale a pena exige esforço. E quanto mais vale a pena, mais esforço exige. Isso é particularmente verdade sobre a Matemática: se investirmos um esforço pequeno sobre as matérias, ficando com um conhecimento superficial, de pouco ou nada nos valerá o “esforço”.
A Matemática não se aprende na Wikipedia ou navegando pela Internet. Exige pensamento, estudo, concentração, treino e algo para que nos últimos 2500 anos não se inventou substituto – o contacto humano. Aquilo a que normalmente se chama aulas.
Não sei se isto parece aborrecido, mas é a melhor (se não mesmo a única) maneira de aprender Matemática. E aprender é não só uma aventura maravilhosa, como tem no final o pote de ouro da compreensão do mundo. E para transformar o Mundo, é preciso primeiro compreendê-lo.
Isaac Asimov, num conto com mais de cinquenta anos publicado nos Nove Amanhãs, relata a seguinte história. Num futuro imaginário, as crianças brincam 364 dias por ano e um dia por ano o seu cérebro fica ligado a uma máquina com discos que lhes administram automaticamente todos os conhecimentos de que necessitam. Assim fazem toda a escolaridade e aprendem tudo o que precisam, da primária à Universidade. Todos menos um rapazito.
Desde os 7 anos de idade este rapaz foi obrigado a aprender à maneira antiga: estudando, tendo aulas, esforçando-se, compreendendo, investindo o seu tempo. Enquanto os seus amigos brincavam 364 dias por anos, ele estudava. E assim foi, para sua grande frustração, incompreensão e mesmo revolta, até à idade adulta.
Nessa altura foi chamado pelas classes governantes da sociedade. Começa por expor toda a sua revolta. Porque é que me trataram assim? Porque é eu tive de me esforçar para aprender por mim próprio tudo aquilo que ensinaram aos outros sem esforço? E a resposta foi “Porque tu foste escolhido para escrever os próximos discos”.
O pote de ouro da Matemática é o seguinte: todos os grande avanços científicos e tecnológicos implicam a utilização de novas ferramentas matemáticas. Para dar um exemplo recente que muitos de nós temos nas mãos, uma desconhecida empresa de indústria pesada, que fabricava pneus e pasta de papel, decidiu no final dos anos 60 virar-se para as telecomunicações. Estava num país com enorme densidade de pessoas altamente qualificadas do ponto de vista científico, técnico e matemático, e os grandes problemas matemáticos estavam a surgir. Era uma altura estratégica para entrar.
O país era a Finlândia. A empresa era a Nokia, hoje o gigante mundial de telemóveis. Continua a fabricar pneus, embora quase ninguém saiba. Mas para isso não é preciso Matemática mais sofisticada do que a do século XVIII, e não é por isso que a Nokia é conhecida (o leitor conhece alguém que use pneus Nokia no carro?). Para inovar verdadeiramente é necessário estar em condições de criar Matemática nova (e Física, e Química, e Engenharia). Enquanto seres humanos isso transporta-nos a altitudes nunca antes imaginadas - é como descobrir um Evereste pessoal para escalar. Só isso já compensa o esforço. E no fim da escalada pode estar um verdadeiro pote de ouro. Mas só está lá para quem se esforçar a descobri-lo.
19 comentários:
Sensacional. Mas é isso mesmo. Todo este avanço tecnológico não consegue nem de longe substituir a virtude do aprendizado, que por contar com a criatividade humana, não fica restrito a meros programas virtuais.
Cadinho RoCo
Admiro esta tu paixão e de algumas pessoas que conheci, pela matemática. Penso que há que desmontar tabus, criar apetências (afinal não é isso a especialidade do marketing?) pelo bom ensino da matemática. Há algo que falha, não sei ou quê. Afinal sou um comum dos mortais. (o meu professor preferido de mat, dizia-me - és um gajo porreiro mas de matemática não percebes nada!)Eu sentia-me comprometido, mas não subia do 10! :)É preciso transmitir essa paixão!
Keops:
Não adianta transmitir gosto seja pelo que for se a pessoa à partida colocou uma muralha em torno do assunto.
beijo
Querida amiga,venho pedir um favor...esse selinho que colocas-te na lateral, foi me oferecido, dai dizer em beixo quem mo ofereceu, então como não é meu, pedia se o trocavas pelo que postei
no olharIndiscreto, que esse sim o fiz expecialmente, então o oferto
com muito carinho e amizade...
Desculpa este meu pedido____
Pega ele, neste endereço:
http://olharindiscreto.blogs.sapo.pt/
Quase tudo gira em volta da matemática, belo teu artigo...
Doce é meu beijo
Collybry:
sou tão distraída quem nem vi que tinha nome por baixo. Ok vou tirar.
Querida é isso mesmo...bem Hajas pelo carinho...ficou melhor? espero que gostes...
Doce é meu beijo
O teu texto é muito didáctico e com objectivos muito nobres de incentivo à aprendizagem. Penso que, actualmente, o facilitismo com que nos chega a informação está a trazer prejuízos irrecuperáveis em matéria de raciocínio.
Não podemos esquecer que o racíocinio é uma faculdade abstracta que o homem primitivo não possuía e algumas tribus ainda não possuem. O racíocinio desenvolve-se e é através dele que nos diferenciamos das diferentes espécies. A matemática, é por excelência, a disciplina do racíocinio.
A Matemática é a melhor ferramenta de interacção com o meio ambiente que se conhece.
A matemática que permitiu o aparecimento dos computadores já existia há anos antes de ser desenvolvida a tecnologia que lhe desse base. E essa tecnologia foi desenvolvida com base em matemática também.
É uma questão de raciocínio lógico e abstracto.
matemática é a convenção mais acertada da raça humana, todas as ciÊncia dependem dela!
Por favor!
Ajuda a que se faça Justiça a Flávia. Se és um ser com sentimentos, ajuda!
Eu jamais invadirei teu blogue, garanto! Mas ajuda.
Repara bem: eu, tu, seja quem for, tem nosso pai, nossa mãe, nosso irmão ou irmã, ao longo de 10 anos em coma, que vida será a nossa?
Se não tivermos a solidariedade de alguém com sentimentos, que será de nós?
TEMPO SEM VENTO
Ah, maldito! Tempo,
Que me vais matando,
Com o tempo.
A mim, que não me vendi.
Se fosses como o vento,
Que vai passando,
Mas vendo,
Mostrava-te o que já vi.
Mas tu não queres ver,
Eu sei!
Contudo, vais ferindo
E remoendo,
Como quem sabe morder,
Mas ainda não acabei
Nem de ti estou fugindo,
Atrás dos que vão correndo.
Se é isso que tu queres,
Ir matando,
Escondendo e abafando,
Não fazendo como o vento:
Poder fazer e não veres
Aqueles que vais levando,
Mas a mim? Nem com o tempo!
Até certo ponto, garanto o resultado de 2+2, ou 2x2, e seus contrapostos.
Sou pelas Letras.
Para que estas saiam mais ou menos exatas, submeto-me à Matemática que me dá o resultado, exato, do: {[(esforço x esforço) somados à persistência] menos a preguiça}.
Portanto, não é somente o pão que se ganha com o suor.
O Conhecimento exige o vapor resultante da queima dos neurônios, e alta dose dos sais diluídos no suor.
Um beijo de Paz, a ti.
Confesso que a matemática me mete confuzão, mas, as tuas palavras...não...
Os Deuses acordaram a ilha
Passaram a noite em celeste folia
Irritaram a chuva e o vento
Construíram castelos na maresia
Bom fim de semana
Mágico beijo
Sílvia:O texto que transcreves ilustra tudo aquilo que já neste teu espaço tens exposto e que eu partilho inteiramente: Esta área do conhecimento exige muito estudo e aplicação e em especial empatia, porque sem estas referências nada se consegue!Criar hábitos de estudo e interesse resolvem problemas...Boas lembranças, sem dúvida!
Beijinho
Jorge madureira
A matemática é capaz de explicar o universo. Não sou amante dos números, e os meus conhecimentos de matemática são do mais rudimentar que possa existir.
Sou professor de Português. Mas reconheço o valor da matemática para a vida quotidiana e não só.
Tenho família em Portugal: Fontoura Madureira.
Por um acaso tens alguém na tua genealogia de nome Constantino Fontoura Madureira?
Olá Sílvia, deste-nos uma grande lição de matemática.
Bem-Hajas.
Beijinhos,
Fernandinha
Quem tecla não chora:
que eu saiba não.
beijinhos
Olá Sílvia,
tem toda a razão. Realmente a disciplina de matemática, só pelo nome, assusta alunos e não só. Isto será devido a quê?
Porque será que a matemática tem esta fama de ser tão difícil e, talvez, a mais odiada?
Aí está, como diz no seu texto, exige muito esforço, trabalho e compreensão, e é precisamente isso que falta principalmente aos estudantes portugueses talvez por falta de incentivo.
Isto tudo também depende não só do aluno como do professor.
Bom artigo! ;)
Beijinhos
Fui sempre um aluno razoável a matemática, tipo 11, 12 valores. Reconheço que nunca fui apaixonado por esta arte. Contudo tenho de admitir que é uma ciência exacta e que consegue explicar praticamente tudo, inclusive os nossos movimentos, é fascinante e tem de ser interpretada como uma arte, pelo menos é a minha opinião. Gostei do texto que realmente incentiva a aprendizagem e é aqui que termino, pois as minhas melhores notas a matemática sempre foram devido às professoras que nos ensinavam esta arte como brincar, sem ser um bicho de sete cabeças. Assim aprendi, mesmo sem grandes notas a ver a matemática como um exercício mental simples e engraçado. Cumprimentos.
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